sexta-feira, 17 de maio de 2013

Eu não quero ser Teresa.



Não, obrigada, eu não quero ser Teresa. 

Não sei transpor pedras, não consigo me combater. Faço absolutamente tudo errado, basta ver linhas tortas que estou lá a trilhá-las. 

Teresa não. Acertava até no erro, amarrava o sofrimento. Tinha a textura delicada duma pétala de rosa, exalava suave como a mesma. Sensível extrema desde o último fio de cabelo, até o dedão do pé, dessas que não conseguem nem olhar céu bonito sem se derramar. 

Só nisto nos assemelhamos, eu, que quase verti em lágrimas ao descobri-la assim. Chorar me dói fisicamente, no entanto, chega a ser ridículo o fato de ter eu que lutar bravamente para segurar as lágrimas diante de um céu bonito, uma bela canção ou criança brincando. 

Até nisso me é superior. Jamais conteria uma lágrima, deixava-as rolarem, vindo para fora e limpando a alma por dentro. Eu, de tanto conter lágrimas tenho a alma embaçada, alma que vê muito pouca água para estar cristalina. 

Teresa era solícita, obediente, tinha seu eu domesticado. Encarava-se de frente, assumia-se, e logo ia consertar suas mazelas. Já meu eu, é tão solto que eu nunca nem consigo encontra-lo. O tempo que deveria ser gasto em ensiná-lo, perco o procurando. Fico rouca de tanto o gritar, ele insiste em fugir. Chego a pensar que não dá para se passar uma vida inteira sendo eu mesma, um eu sem eu. 

Ela fechou os olhos, recolheu-se de tudo. De uma vez só, respirou, olhou, ouviu, sentiu, e decidiu: ‘renuncio a mim mesma, salvá-los vou’. Pois a si mesma já tinha salvado, sublimou seu sentir, agora muito menos humano e muito mais divino. No escuro, na dor da redenção, na solidão. Já eu, anseio desesperadamente sentir. Absorvo cada sensação como se fosse a última, a única, sinto todos os sentidos vibrar com este mundo. As cores, os cheiros, os sons, as risadas, os abraços, os olhos, os movimentos... tudo ferve em meu coração. Quero não necessitar tanto das pessoas que amo, mas ainda preciso delas para senti-Lo. A humanidade está entranhada até a última célula do meu ser, essa carne que lentamente apodrece me impedindo de ir além, de me aproximar do inatingível. 

Era corajosa. Viu o sofrimento, lançou-se nele de braços abertos, com boa disposição. Alegrou-se no martírio, confiou até o fim. Conhecia-se milimetricamente, por ter si aprofundado em si mesma, era muralha que recobria todas as suas fragilidades. Eu, quase me consumo, sendo mais medo do que gente. Tudo que me fascina, me inspira o dobro em horror. Não consigo dar meio passo sem tremer deliberadamente. 

Teresa amava com uma intensidade não expressa suficientemente em palavras. Era toda amor. Na fala, no pensamento, no agir, nos olhos. Já eu, tenho sede de amor, querendo engoli-lo em todas as suas formas sinceras, vibrando para distribuí-lo por aí. Mas não posso, porque não o tenho o suficiente nem mesmo para mim, e sou completamente incapaz de me apaixonar. Deprimo-me por não entende-lo, por ele ser simples a ponto de eu não conseguircompreender. 

Teresa gosta de flutuar, eu de cair. Teresa sabe sofrer, eu sinto um incômodo crônico e intangível na alma. Eu penso que sei de algo sem saber de nada, ela sabia de tudo e acreditava-se criança que nem mesmo sabia ler. Teresa sabia lidar com as rosas, eu sei furar meus dedos em seus espinhos. 

Como ela mesma soube reconhecer, pessoas têm capacidades específicas. É por isso que ao menos isso eu consigo ver, enxergar que Teresa é balde pare encher-se de água fresca, eu sou mero copo. Ainda sim, estou preenchida em menos da metade. É por isso que sigo a implorar de joelhos, água, água, água. 

Não, eu não quero ser Teresa. Não quero sê-la, porque eu não consigo ser Teresa. Folhas e rosas complementam-se, não dá para uma ser a outra.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Diáfano.






As rosas me perseguem, não importa aonde eu vá. Os cheiros também. Das rosas, do mundo, da casinha por detrás da igreja, de confortáveis flores e madeiras. Cansei de me perguntar, Deus sente? Se sim, será um sentir aguçado, refinado, não egoísta, oposto ao nosso. Este é guloso, gosta de absorver-nos por inteiro. Nós precisamos de cheiros, lágrimas, respirações, toques, sons de risadas... já Ele pode ter tudo e não deve precisar de nada, enquanto temos quase nada e precisamos do tudo. Não posso ter linhas assim tão quebradas, nem sentir-me tão indisposta. É por isso que hoje quase implorei-o para sorrir. No fim, tudo podia se resumir em acordar pensando “hoje, eu vou ser muito feliz” e deitar-se concluindo “amanhã a felicidade poderá ser mais”. Porque o sol nasce para iluminar. Iluminar, e nada mais.