quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Andam dizendo que sou dramática








Para a minha geração do barulho, farra e festa, com certeza seria a pior das derrotas. Não há em mim mais fôlego para me sentar e beber, para permitir que uma ofensiva vodka bata no fundo do meu estômago enquanto ouço músicas de ritmo fácil e letra ofensiva. Eu estou cansada de tanta gente ordinária nesse mundo e do meu pensamento que não vem em prosa. Ocorrem-me essas frases soltas de verso e eu não tenho o que fazer com isso. Estou cansada do mundo raso em que eu vivo, no qual as pessoas não conseguem ficar em casa nos fins de semana, não lidam com o som gritante do próprio silêncio, com a carência de gente que precisa viver em relacionamentos orbitantes onde um planetinha tem que ficar girando em torno do sol carente e do sentido desaprendido do amor que tomou conta da gente, do fato de eu ter fervido café só pra mim hoje e de eu não ter paciência para lapidar esse texto e de eu andar cansada com o Jeds pelas ruas e eu e meus amigos de faculdade termos tanto medo porque não sabemos aonde vamos parar e um sentimento de apocalipse nos invade e toma conta do que somos e nossas matérias viram medo nossos estágios viram medo, a faculdade noturna é desolante, o frio do campus azeda mais batendo no concreto tão sem graça de prédios tão quadrados que nome maldito é Universidade Federal andam dizendo que sou dramática sou mesmo a rainha do escândalo um corte mínimo no dedo e descabelo três dias e a dor de um mundo inteiro de crianças sujas e esfomeadas, etnias desprezadas,  trabalhos semi-escravos em cubículos, doenças terminais e minha mãe com dor nas costas me assombra e eu sofro com a dor de todo mundo porque a minha é indigna eu que nasci no lado ocidental do mundo onde tem água, direitos maquiadamente respeitados, computadores e partidos corruptos a política esbarra num beco fundo e indecifrável e só entendemos mais mais mais que não há o que ser feito, que essa dor é pra ser sentida mesmo.

Amontoei palavras porque virei um amontoado mesmo.

Alguém só varra meus confusos escombros, por favor.