quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Gritando


Hoje eu malhei o dia inteiro, malhei esse meu corpo sobrando sete quilos, e minha'lma, que tentei forçar todo o tempo para cima. Gente, eu quero sublimar, pelamor. Cê não tá gorda, Sarah. Seu corpo é bonito. É culpa daquele maldito short. Era da minha mãe quando jovem, um jeans meio gasto de cintura alta. Lindo. Não entra em mim. E a bondade de Chiara Luce?  De Francisco de Assis? Também não cabem na minha alma pequena. Eu fico ouvindo música ruim e querendo voltar para São João. Ô Senhor. Como é que pode caber tanta futilidade numa pessoa só? Me livra disso, me borda com teu amor. Dá-me mais instantes como aquele: da penúltima vez que comunguei, imaginei algo muito bonito. Me veio assim: imagina a emoção de Maria segurando nos braços Jesus nenenzinho. Jesus. Nenenzinho. Quanta ternura numa cena só! Ai. Quero visitar idosos. Suportar os chatos. Ter paciência com minha mãe. Nos meus objetivos para 2015 escrevi: fazer uma caridade todos os dias. Senhor, porque nos tiraste Chiara, quando eu claramente preciso dela? Por que uma santa morre aos dezoito enquanto eu, preocupada com um short de cintura alta, tô viva? 

Caminhando pelo calçadão lembrei-me do gosto por amores subversivos. Gritos, descabelos, vontades ardorosas. Sofrimento, sofrimento, adoro Snap Out of It do Arctic Monkeys. Escrevi numa poesia: "se eu tivesse um amor, cozinhava em fogo baixo, matava devagarinho, porque nunca fui de gritar". Gente, como eu abomino esses lugares comuns: mãos dadas, vestidos floridos, domingos nas praças, mãos sempre na cintura.Eu acho bonito demais o sofrimento, como são poéticas as coisas doentias! Enterro minha insanidade debaixo de muitas contas de rosário. Porque eu não acho que as pessoas são obrigadas a conviver com uma Sarah louca, eu não sou obrigada a conviver com uma Sarah louca aqui dentro. Ai, quero ser bonita só com um batom e um vestido, que nem a Thaís. Cansei de excessos. Não, quero ser bonita que nem a Chiara, só com a luz divina. Honestamente, agora eu só queria descer minhas dez unhas já meio descascadas numas costas aí. Passo por um cara que fala, "Nossa Senhora", eu penso, "tá no céu, meu filho." 

Observo as mulheres existentes. As ministras da eucaristia usam rabos baixos, saltos dicretos e grossos, brinquinhos dourados. Tem essas senhoras de ares cansados e meia idade, que cruzam por mim enquanto caminho no calçadão. Vão repletas de sacolas do ABC, filhos, marido e trabalho tecendo certa curvatura em suas costas. Tem as amigas que falam alto, seguram copos, e me fazem rir. As que me fazem refletir. Tem minha vó me perguntando que letra é pra bordar na toalha de rosto. E eu? Tenho a alma na porta da rua. Falo, "que vontade de te beijar". Quando vou na adoração  levanto e toco o Santíssimo, mesmo sob os olhares recriminantes das beatas sem fervor. Meus braços coçam. Algum matinho misterioso que cerca o passeio de caminhar me dá uma alergia absurda.

Acho que sou mesmo alérgica a relacionamentos. Lembro até hoje do menino que me ligava de madrugada, se passa alguém com aquele perfume doce por mim eu arrepio. Não sei o porquê, foi um trem tão bobo. Acho que gosto de coisas meio bestas. Por exemplo, acho graça demais num cruzamento no bairro da minha vó. O carro da minha mãe passa capengado sobre as pedras. Numa esquina um açaí, na outra, um açougue e mercadinho. Um lote vago crescendo matos, um predinho familiar com enfeitizinhos nas sacadas. Sabe o que é bonito? No mercadinho/açougue tem umas frutas e verduras pintadas nas paredes estreitas. Na parede da minha vó, um folheto com os dias do ano que vem com trechos da Bíblia. Promessa de ano novo, com uma amiga: esse anos vamos nos apaixonar, e chorar por isso. A Laura contando: meu pai rachou o cimento ali pra plantar limão, daqui uns dias esse lugar aqui vai virar uma horta! Eu fico perplexa com a delicadeza do ser humano. Acho que é ela que me faz ter vida em excesso. Eu nem sei o que fazer com tanta vida. Com tanto peso tomo chás, suo correndo, águas de berinjela. E essa ânsia de viver, de gritar que a criação é linda, que Deus elaborou o mais refinado dos espetáculos com o pôr-do-sol? Escrevo.

No fim do calçadão há uma placa explicando o porquê do nome do pontilhão que liga aquele bairro a outro. Certa senhora portuguesa que doou terrenos para algo que não me lembro mais. Minha cidade existe porque por ela passou uma ferrovia. Quando ergueram uma igreja amarela imponente ela passou a respirar. Ando muito aqui para provar que sou bicho da terra, é com gosto que piso esse chão. É com raça que piso o de São João. É com paixões absurdas que se cursa Jornalismo. É com fé que se vive. Sem ela só existimos. 

domingo, 4 de janeiro de 2015

sã?


Se for vir
 tenha a competência de me fazer atirar copos nas paredes.

não ligue
não seja.

esteja.

Se for vir, tenha a competência de me deixar desvairada.

só aceito ser sã
se for ser freira.

sábado, 3 de janeiro de 2015

eu preciso em 2015!



Eu preciso constantemente me inspirar!
    então tenho que tomar cafés,
        pisar gramas,
                                   ouvir histórias de santos,
                            beijar devagar

ter dias de cama bagunçada
e os de arrumar o quarto também.

                                eu preciso de fé
                                                       afeto
                                                       vontade
                                                           doce
                                                              e
                                                               amizade!