segunda-feira, 15 de junho de 2015

Linhas Secas



Não sei há quanto tempo não solto uma linha. Há quem leia essas bobagens por aqui, e é por isso que sempre volto. Que tudo gira em torno das duas cidades não há dúvida: a do Divino, e  a das pedras. Mas sobre isso não tratarei mais. Preciso fazer a vida emergir de dentro de mim quando não há vó e café. E que não me tirem da paz essas pessoas rasas, com seus excessos de poses, e que não me sequem o amor, essas pessoas desérticas. Porque de tudo isso eu cansei. 

Eu, que tenho um jeito torto de andar, que nenhum anjo esbelto tocou corneta ao nascer, não estou aqui para esperar nada de ninguém, e por nenhuma pessoa. A sensibilidade dispenso aos textos, o resto, resolvo como par ou ímpar. Sou a própria impaciência, mesmo em meio a minha bondade estúpida. E quando vou embora, não deixo bilhetes de tchau. 

Tenho a impressão de estar sempre me adiando. Precisava escrever mais, entender de literatura, adiantar-me em meus trabalhos e estabelecer uma rotina de oração que me alcançasse o indispensável elo com Deus. Mas me deram um cobertor felpudo, e tudo o que quero é enrolar-me nele e dormir indefinidamente, reduzindo minha humanidade à miséria extintiva. Teresa tinha as rosas, Chiara a doçura, Antônio os lírios. E eu, tenho mãos secas demais. Além do sono excessivo, é claro. 

Há dias que não sei porque me movo. O moço precisado afasta-se por quilômetros, e a minha fé, anda desacreditada no mundo dos pastores. Penso, penso e penso: porque corro como formiga louca e operária, entre esses campus, entre esses anos, entre esses panos? Nós jornalistas somos manipuladores, independente da beleza da alma dos meus professores. Perguntamos esperando respostas.

Para a vida lanço perguntas irrespondíveis. Eu, de joelhos suplicando, e ela, devolvendo o silêncio dourado e fedido de madeira dessas igrejas barrocas: Deus não está nelas.