quinta-feira, 23 de outubro de 2014

isso merecia ser escrito?

Eu não mereço um amor. 
São João me induz ao erro.
Os que me entretêm por mais de 5 segundos
não podem ficar

dos outros eu quero partir

se  tivesse um amor
eu matava devagarinho 
cozinhava em fogo baixo
que eu nunca fui de gritar

aos rapazes de boa intenção
meus sentimentos

mas minhas boas inclinações se perderam. 

domingo, 19 de outubro de 2014

jornalistas


Um homem
invade 
a guerra
porque pede
sua profissão

jornalista.
a câmera que filma
o momento
do tiro
não mostra
o que nele 
é humano:

um coração 
que quase parou
para 
poder
informar

me repito
o Filho do Homem
não tem onde
reclinar a cabeça

o jornalista também não.

estamos exatamente
onde profissão
quis casar
com paixão

terça-feira, 14 de outubro de 2014

mas quando ela dança



Deito na cama e não durmo. O que São João del Rei faz com uma pessoa? Sódio, fritura, álcool. Mata. Eu vim conceder celulite às minhas pernas, e ouvir meus professores dizerem que serei pobre? Nem tudo está perdido: há aquele inconfundível som, das rodas de carro contra as ruas estreitas de pedra sabão. Em certo ponto, vende-se picolé sem embalagem, com pedaço de fruta, bem ali, no pé do morro da casa de uns meninos estranhos. É bonito como se erguem imponentes, as igrejas rebuscadas de anjinhos de mármore, contra um céu incrivelmente azul. Antes eu não me sentia em casa, agora minha gaveta da cozinha tem xícaras. A marca do café é a mesma que dona Maria compra. A diferença é que ninguém me chama de "fia",  não rezam o terço comigo, e uma e quinze da manhã, empurram minha janela me gritando. É sem medo que afirmo que universitário é uma raça, e das mais ordinárias possíveis. Vivem gritando pelas ruas de madrugada, pregando os chãos com bebida, atormentando vizinhos com música ruim. Desonestos, mentirosos, preguiçosos, dissimulados, interesseiros. Incrivelmente espertos para raciocínios ruins. Não parece que estamos construindo um futuro. Ficamos maltrapilhos quando nos botaram o seguinte peso nas costas: sejam alguém. Preciso de um bom CR, de um curso de inglês, de um currículo extenso, de tirar ao menos 6 nessa prova, de fazer um curso que não seja jornalismo... de um copo de gummy. Não sei editar videos, fazer cartazes, elaborar perguntas pertinentes, nem tenho uma grande câmera preta. Trouxe comigo só meu excesso, as linhas tortas e essa insaciável paixão. Se o Filho do Homem cursasse algo, seria jornalismo. Se eu fosse freira, cuidaria de um jardim. De rosas, e um dentro de mim. Tenho essa vontade de amar o mundo, e quando toca uma música bonita no carro, alguém pergunta o nome, é o fim da aula, e estamos indo embora na noite escura, eu amo. Quando a Leite de Castro está confusa de carros, fumaça e gente de cara feia, e eu quero desacreditar, uma música bonita toca no telefone também."Tell me how I'm supposed to breathe with no air?", me dá até vontade de ter um amor bem doído. Acordo de madrugada com sede excessiva e as canelas roxas, os sapatos na área estão atolados de barro, mas é bonito morar numa cidade recheada de palavras como largo, pelourinho, mercês, pilar. Sinos repicam à senhora morta. Essa gente cheia de "boto fé", "ô viado", chamando festa de rock, é engraçada demais. Alargam em mim um sorriso sem muita reflexão. Não sei bem o porquê de estar escrevendo isso. Acho que é só pra contar que São João já me permite escrever.