Deito na cama e não durmo. O que São João del Rei faz com uma pessoa? Sódio, fritura, álcool. Mata. Eu vim conceder celulite às minhas pernas, e ouvir meus professores dizerem que serei pobre? Nem tudo está perdido: há aquele inconfundível som, das rodas de carro contra as ruas estreitas de pedra sabão. Em certo ponto, vende-se picolé sem embalagem, com pedaço de fruta, bem ali, no pé do morro da casa de uns meninos estranhos. É bonito como se erguem imponentes, as igrejas rebuscadas de anjinhos de mármore, contra um céu incrivelmente azul. Antes eu não me sentia em casa, agora minha gaveta da cozinha tem xícaras. A marca do café é a mesma que dona Maria compra. A diferença é que ninguém me chama de "fia", não rezam o terço comigo, e uma e quinze da manhã, empurram minha janela me gritando. É sem medo que afirmo que universitário é uma raça, e das mais ordinárias possíveis. Vivem gritando pelas ruas de madrugada, pregando os chãos com bebida, atormentando vizinhos com música ruim. Desonestos, mentirosos, preguiçosos, dissimulados, interesseiros. Incrivelmente espertos para raciocínios ruins. Não parece que estamos construindo um futuro. Ficamos maltrapilhos quando nos botaram o seguinte peso nas costas: sejam alguém. Preciso de um bom CR, de um curso de inglês, de um currículo extenso, de tirar ao menos 6 nessa prova, de fazer um curso que não seja jornalismo... de um copo de gummy. Não sei editar videos, fazer cartazes, elaborar perguntas pertinentes, nem tenho uma grande câmera preta. Trouxe comigo só meu excesso, as linhas tortas e essa insaciável paixão. Se o Filho do Homem cursasse algo, seria jornalismo. Se eu fosse freira, cuidaria de um jardim. De rosas, e um dentro de mim. Tenho essa vontade de amar o mundo, e quando toca uma música bonita no carro, alguém pergunta o nome, é o fim da aula, e estamos indo embora na noite escura, eu amo. Quando a Leite de Castro está confusa de carros, fumaça e gente de cara feia, e eu quero desacreditar, uma música bonita toca no telefone também."Tell me how I'm supposed to breathe with no air?", me dá até vontade de ter um amor bem doído. Acordo de madrugada com sede excessiva e as canelas roxas, os sapatos na área estão atolados de barro, mas é bonito morar numa cidade recheada de palavras como largo, pelourinho, mercês, pilar. Sinos repicam à senhora morta. Essa gente cheia de "boto fé", "ô viado", chamando festa de rock, é engraçada demais. Alargam em mim um sorriso sem muita reflexão. Não sei bem o porquê de estar escrevendo isso. Acho que é só pra contar que São João já me permite escrever.