domingo, 17 de abril de 2016

Vai ter luta


A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão - Apesar de você, Chico Buarque 

Brasil.
Brasas.
Fogo ardente que reverbera nas cordas vocais deste povo que, desde suas origens, teve que aprender a gritar contra as indignidades que lhes eram impostas. Esta terra se construiu com gente que precisou, desde sempre, flutuar por cima da dor: índios que tiveram sua vivência restruturada por hábitos que lhe eram estranhos, portugueses saudosistas, cantando tristes fados à terra natal abandonada, negros traficados, angustiados por perderem sua África e a condição humana pela escravidão. Um povo que tinha tudo para lamentar um futuro. Nação originalmente triste, que no ventre deste solo de proporções continentais de tão exuberantes riquezas, se gerou entre lamentações e a falta de tantas coisas.

Gente que tinha tudo para ser cabisbaixa, viver com olhos rasos e razão conformada. Terra que foi primordialmente lugar de poucos, onde a maioria era apenas massa de manobra do interesse dos grandes. Mas o ardor fogoso que carregamos no nome não nos permitiu o conformismo. Somos gente de víscera. De histeria. Do gosto pelo escândalo necessário, gente que, quando quer aperta firme a mão do irmão e vai adiante. E nos misturamos tão profundamente, nos entranhamos uns nos outros porque somos curiosos por natureza. Fizemos da nossa genética um verdadeiro vitral. Variados cacos de diversas cores num encaixe absolutamente perfeito, curiosamente belo.

É por isso que não importa o quanto os velhos dominadores que insistem em permanecer no alto desde o dia que desceram de navios briguem para continuar esse ordem. Nós não vamos permitir. Sabe por quê, meus queridos? Esta terra aqui é de todo mundo, e ninguém pode querer se fazer mais. Brasil é lugar de Chico Buarque e Milton Nascimento, Gilberto Freyre e Carmen Miranda. Olga Benário e Anita Mafalti, entre tantos outros e outras, que mostraram nossa beleza original.

Aqui meus raros, é terra de qualquer credo, cor, classe social. E se não é ainda por completo, vai ser. Porque não vamos parar até conseguir. Repiquem os tambores dos terreiros, porque Iemanjá, Iansã, Xangô, vão ficar. Aumentem o som porque, vai ter a gente do funk, do rap, do samba, da periferia e do centro dançando sobre as avenidas de nossas cidades tão lindas. Porque aqui é lugar de quem quiser. Preto, branco, gay, hétero, alto, baixo, rico, pobre. O Brasil é como nós minha gente: adaptável. Somos escorregadios, espertos, multifacetados e coloridos de uma forma que qualquer outro povo sobre este globo desconhece.  Temos homens de mãos seguras e mulheres de quadril largo. Acreditem: ninguém pode com a gente.

Os cálices serão devidamente afastados porque Jesus Cristo já morreu e ressuscitou pelos pobres e oprimidos. Ninguém vai ficar bebendo cálices de fel imposto pelo poder alheio. Ressuscitaremos sempre nossas lutas.

Por isso, para quem acha que vai conservar nossos antigos erros ainda não corrigidos, só digo uma coisa. Cuidado.

Porque apesar de você, amanhã vai ser outro dia.


Ouça Apesar de Você - Chico Buarque.

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