segunda-feira, 23 de maio de 2016

Cajado no chão

O atabaque e o tambor emendam as vozes de quem precisou lutar pelo direito a fala.
O branco reborda a festa, as cabeças se cobrem em claro sinal de respeito. 
O tom, o tato, o cheiro do fumo e do mato. 
As imagens, as comidas, os cigarros e as cores da devoção tornam-se silhuetas difusas sob a luz oscilante das velas que iluminam o templo onde reside a ancestralidade.
Ancestralidade de um povo que fez nascer de seu suor e dor as construções coloniais que hoje contam o que é São João. Gente que precisou camuflar seus santos de tantas cores e ritmos, orixás deslumbrantes, sob uma série de pretextos católicos para continuarem a beleza de sua devoção. 

Gente que entende de ritmo, merece e quer
 cantar, girar e dançar sob a luz da lua,
mas tem sua espiritualidade natural 
taxada de macumba. 

Em maio, os terreiros de candomblé e umbanda louvam os pretos velhos. Espíritos ancestrais e sábios, que trazem em suas incorporações modos inclinados de quem teve a coluna seriamente prejudicada por chibatadas. A dor que instalou-se nestes corpos gerou belíssima sabedoria nos corações, que hoje, voltam à nossa condição encarnada para aconselhar as mentes dos vivos que precisam de direcionamento espiritual. Toda a periferia são-joanense encontra no ar da cidade os toques dos seus tambores nos fins de semana deste mês para lembrar esses espíritos de resistência e de luz, festejá-los com tambores, comidas e hinos. Preto velho é isso: resistência, ancestralidade, conselho e amor. 

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