segunda-feira, 16 de maio de 2016

Segunda-feira

Tudo que eu queria era um minuto de descanso sobre este meu país que pende para as ruínas. Nossos políticos sapateiam e botam língua para gente brasileira, e depois fazem passar um pedaço de pau com fogo na ponta - famigerada tocha olímpica -, para ver se despertam nosso farrapento e supérfluo espírito de coletividade, união. Ah, pelamor, gente. Estamos tendo saco mais não. Os ativos, os enérgicos, foram ao fim do trajeto da tocha, aqui em São João del-Rei, gritar um ardoroso fora ao novo presidente ilegal. Quisera eu que todos nós fôssemos assim, barulho vivo, e não batuque de panela seca.

Não há em mim mais estômago ou fôlego. Estou tendo vontade de ser estúpida, irônica, agressiva, de menosprezar inteligências - facetas que vão contra meu esforço de ter espírito cristão. Meus professores me abominariam: não estou tendo coragem para ler sempre as notícias, o jornalismo é um campo que, apesar de meu irremediável amor, é sujo. Eu não posso com isso gente, sou bobinha, desde pequena choro quando chove porque lembro que os moradores de rua não tem como se abrigar do céu furioso.

Prestem atenção no absurdo da insanidade nova  que tem me cercado. Vou na festa - essas com moças jogando franja e fazendo pose pra foto e rapazes bobos de camisa pólo - e começo a me divertir com o álcool e com a música estúpida. Aí eu lembro das adolescentes faveladas que vão engravidar novas, que usam shorts mais curtos que os meus, e que nunca vão estudar numa Universidade Federal - este ostensivo nome e lugar. Nem uma célula do meu corpo me faz mais ou melhor que elas, por motivo nenhum sou merecedora da minha mais privilegiada posição.

Aí entristeço e deixo as pessoas acreditarem que meus olhos distantes são culpa do álcool fazendo oscilar minha órbita, mas não é. É esse sentimento de mundo que me dói, de madalena arrependida, de freira que cuida de rosa no jardim,  sentimento de observar o menininho preto assustado na janela do ônibus. O crítico literário fala sobre meus poemas "ela muda de ideia rapidamente, soa meio pós-adolescente", e a professora de teatro: "quando você recita poesia, soa meio infantil. Parece que tem treze anos". Acho que parei mesmo no sombrio inseguro dos meus trezes anos.

É lá que descobrimos que temos um corpo que menstrua, que lança óleo sobre a pele para gerar espinhas, que temos fomes cansativas. Foi onde comecei a brigar com meu peso e a minha vontade de existir, que queria desenhar vestidinhos, ler livros e escrever bobaginhas. Era viver de só ouvir minha mãe falar "lava as vasilhas pra mim", minha tia falar, "não coma tanto bolo", era não existir rapazes para irem embora e eu precisar ter um espaço para sentir falta. Era tão mais fácil quando eu estava no início da minha aflição!

Agora, cá estou eu. Pensando na máquina de lavar para arrumar, como conciliar os projetos da faculdade, tentando direcionar desejos às pessoas adequadas - ou diria enfadonhas? -, e ainda, o que é que vai ser de mim depois disso tudo? A consciência do mundo político me horrorizou para existência desta terra, abismada tive que constatar: somos mais ruins e burros do que bons e inteligentes. Ainda resta um espacinho no prato para digerir a pior das minhas constatações destes dias? Não sei escrever e, não adianta que me iludam com elogios rasos. Minhas letras são mal-organizadas.

Ah, mas me deixa formar, me deixa casar, me deixa tirar cutículas e lavar pratos, permitam-me arrumar um consolo pra política de que é assim mesmo, sempre foi  e sempre vai ser. Ninguém merece conviver com minha existência agoniada. Nem eu.









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